Fernando Calmon

Blog de comentários de Fernando Calmon, Defensor Público em Brasília - DF

21.6.07

Palavras

Palavras são ditas todo o tempo. Palavras são instrumentos da transformação, estratégias de uma invasão. Somos invadidos por idéias, que se revelam nas palavras, que seguem uma seqüência à procura de uma razão. Somos vulneráveis as palavras, somos objeto do seu sentido, mesmo quando não se expressa coerente com o que está sendo escrito ou dito.

A palavra é o meio e é o fim. É uma expressão absoluta, que faz sentido mesmo quando evidenciamos o silêncio. A palavra prescinde do som, se constitui na aparência, desenha a nossa subjetividade, interpreta nossos sentimentos e nem precisamos dizer a verdade.

A palavra desdenha da vontade, surge no acaso e se desfaz na distração. Quantas palavras são ditas e não são compreendidas. Quantas palavras compreendidas ainda nem foram ditas. Quantas contradições guardam as palavras e quantas palavras expressam as contradições.

Para ser quem somos nos reconhecemos através das palavras. Nos sustentamos por seus sentidos, para fazer sentido. A palavra é confusa e sedutora. Reverbera no éter e traz a idéia de eternidade. Quando dita é guardada no universo para sempre, porque se traduz em uma vibração que se propaga no espaço infinito sem nunca terminar. Quando escrita a palavra é interpretada, discutida, flexibilizada, pode ser até guardada e relida. Pode ser principalmente provada.

A palavra vai sempre evidenciar a expressão de quem a interpreta, sejam os vencidos, sejam os vencedores. Sejam os certos ou os errados. A palavra não ocupa espaço, não utiliza o tempo. É tão presente quanto distante. Nos falta e nos abastece. Por onde olhamos ou ouvimos estamos sempre cercado de palavras. Vivemos em um mundo de letras agrupadas que se formam em um sentido complexo. Necessitamos das palavras como de qualquer outro sentido.

A palavra não é só comunicação, é vida, é essência. A palavra é mágica e oportunista. Sedutora e ocultista. Revela o sentido de passar um outro véu (revelar) sobre o seu significado. A palavra compõe a nossa história, registra momentos, pensamentos. A palavra expõe a fragilidade da ideologia. É contemporânea para se fazer mais facilmente compreendida. É histórica para ser um objeto elitista do intelecto e revelar as dimensões da nossa egoidade.

A palavra expõe a nossa intimidade e não deixa nada permanecer escondido. A palavra pode ser um jogo, pode ser uma surpresa. A palavra pode dar medo e conforto, pode ser confundida com outra palavra. Pode ser segura ou insegura. Interessante ou despretensiosa. A guerra ou a paz são anunciadas por palavras. A norma traz em em seu conteúdo a palavra. O sentimento se revela por palavras.


Portanto, a palavra somos nós, na perfeita acepção do que significa ser.

Quando te conheci, o que me intrigou foram as suas palavras. A seqüência de palavras. Foram momentos de uma profusão de palavras, reveladoras do que realmente somos. Nunca me escondi de você. Me escondi das palavras. Porque elas ferem ou curam. Com as palavras nos mordemos e nos assopramos. Rimos ou choramos. Somos mais ou menos felizes dependendo das palavras que são ditas ou escritas.

Somos sempre dependentes do humor das palavras. Por isso as palavras são duais, como nós, como eu, como você. A contradição do ser ou não ser, do claro e do escuro, do certo ou do errado se manifesta nas palavras. A dualidade é a nossa essência. Por isso eu sou assim e você percebeu nas minhas palavras que nunca foram ditas ou não.

A palavra me conquista e como estratégia de uma invasão bem articulada, você me dominou pela seqüência de suas palavras. Estou rendido, então rendo homenagem às suas palavras. Que lindas palavras. Que intrigantes palavras. Obrigado, estou muito feliz (sem medo de ser ridículo).
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3.12.06

Náufrago

Às vezes vivemos como se estivéssemos em uma ilha. Só que cercados de hipócritaas por todos os lados. Náufragos na mediocridade que cerceia, diante da imponderável estupidez. Claro que nessa ilha tem porcos, que charfudam em uma espécie de lama ignóbil. Que já não consegue lembrar que tem perspectivas, entendendo só o que foi devidamente mastigado, preparado. Nada, no entanto, que esteja a mais que um palmo do nariz (focinho).

É horrível a sensação de se sentir um náufrago. Por todos os lados a mesma insensatez. Só nos resta lançar mão de subterfúgios, para convictamente sermos, por nós mesmos enganados. Daí surge um ligeiro alívio. Como é bom sermos enganados! Claro, estou contra o mundo, a ordem das coisas. Não pode ser assim, logo penso em me injetar uma morfina cerebral. Até que ponto devemos ser lenientes, fingir que nada acontece? Até que ponto é interessante nos revoltar?

Porcos são porcos. Não tem, por natureza, perspectivas. Não podem olhar estrelas. Apesar de termos consciência, não somos conformados. Se não posso ver acima, não posso ver além. Portanto, o mundo é o que se passa na frente do meu nariz (focinho). Me lembro da alegoria da caverna de Platão. Como é difícil ser humano, demasiadamente humano (Nieztche). Quem foi que nos ensinou a ver as estrelas, a sonhar?

Da série "como é bom nos enganar" temos que assumir de vez a idéia de sermos náufragos. Ou seja, temos que agir como um náufrago, temos que sobreviver. Seja pela lei da selva, ou pela lei humana, a perspectiva é real. Inegável. Insuperável. Não é boa. Quem naufragou aprende a sobreviver com o que tem, nas condições que lhe foram impostas. Não há escolha: morte ou mediocridade.

Assim como um bom náufrago sou medíocre. Pelo menos tento ser, o que me torna muito infeliz. Mas, como não há jeito, vou vivendo levando a vida como ela é e não como gostaria que fosse. Nesse oceano de mediocridade, hipocrisia e insensatez eu me corrompo, e, furtivamente, fujo da minha vida de porco, chafurdando nessa lama ignóbil, para dar uma olhadinha para as estrelas e sonhar. Ah! Como é bom sonhar! Posted by Picasa

23.10.06

Idéias Libertárias

Vou me libertar. Me libertar do Poder. Não é uma decisão fácil. Ao contrário. De alguma forma contraria minhas tendências. Sinto o que posso, já fiz um juízo crítico sobre minhas possibilidades. Mas necessito da liberdade, necessito dizer não. Necessito encontrar uma coerência entre o que sinto e o que quero. Sinto que de algum modo somos dependentes da falta de liberdade. Começa como imperfeição, uma singela propensão e sorrateiramente se apropria das nossas prioridades.

Vou me libertar, vou contrariar amigos. Vou decepcionar os esperançosos. Vou me fazer incompreendido. Ninguém sabe, ninguém de fato vê, reconheço. Revelo-me em um sentimento tão incomum, o sentimento do desprendimento. Talvez inexplicável, mas fundamentalmente presente, verdadeiro, novo. Preciso me sentir útil, pertencer a um organismo vivo, preenchidos por ideais. Preciso me reconhecer no caminho e não ser enquadrado pelas circunstâncias. Não posso ser maior que os meus sonhos.

Vou me libertar, talvez para ser mais feliz. Para poder ser mais largado, menos formal, mais acessível. Conversar à toa. Acordar tarde, dormir cedo. Ter tempo para as pequenas coisas. Ter tempo para as grandes coisas. Ter mais tempo para mim. Olhar para mim. Cuidar de mim. Posso arranjar inúmeras razões para me libertar, enquanto não consigo teorizar nada que justifique o contrário.

Vou me libertar para me renovar. Procurar outra perspectiva, flertar com um olhar crítico. O que importa é reinventar o meu espaço, a minha dinâmica. Desafiar o novo, vencer o incerto, fixar o mérito. Vou me libertar para testar o meu limite, a minha convicção, a minha força. Vou me libertar para contar com os verdadeiros amigos, para domar o ego, para driblar a vaidade. Para ser mais humilde, menos essencial, mais humano e menos pretencioso.

Vou me libertar para me dar exemplo, me dar um tempo, me dar uma oportunidade. Retomar a vontade de retornar, de retomar o recomeço, de fazer surgir um bom momento, uma boa idéia, uma inspiração.

Por tudo isso, para você que lê minhas idéias libertárias, lhe asseguro que não são vãs. Ao contrário, estou me repassando pela liberdade, pelo pressentimento, pela certeza que ainda posso contribuir com muito mais, mesmo tendo muito menos. Estou fazendo uma opção para não ser nada. Só livre, leve e limpo. Sem ressentimentos, sem decepções. Preciso, no fundo, por tudo isso, me prender à sua inteira compreensão.
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17.10.06

Para me ver II

Para você que me vê, que me olha de frente, de lado, de costas. Que me olha de cima ou de baixo. Veja-me apenas como sou. Não simplesmente o que sou, mas o que faço. O que fiz. Veja-me de forma sincera e propositiva. Não crie um mito, não distorça a verdade, não contorne as minhas tendências, não deturpe as minhas palavras, não contamine os meus pensamentos.

Julgue-me pelos meus atos. Humanos atos, Distantes da complacência, mas perto da minha verdade. Sou o que sou pelo que posso fazer. Tenho responsabilidade com as minhas possibilidades. Nem muito, nem pouco. Apenas responsável. Revelo-me nos meus atos, me mostro com as minhas posturas. Não são boas nem ruins, certas ou erradas, são apenas minhas.

Sou humano. E a questão não é errar, é fazer. Sou enfático e ainda não aprendi muita coisa. O muito me parece muito. Você me vê. Não me ignora, mas me consome. Distribui intrigas e insensatez. Gostaria de humanamente entender. Mas, não alcanço a lógica da demência, da falência espiritual. Quando nada temos, ao menos um bom desejo podemos manifestar. Mas, a natureza conspira contra os fracos, os entendiados, os mentirosos. É implacável. E você passa a me olhar de baixo.

Posso até não ser nada disso, mas a perpespectiva me coloca (infelizmente) acima de você. É meritório e naturalmente somos reconhecidos por uma grande maioria. Há identificação. Portanto, há liderança, respeito, admiração. Como é bom ser respeitado pelo que fazemos. Mais do que mandar, todos nós temos que nos condicionar a ouvir. Reconhecer o mérito do próximo, agregar. No entanto, existe a blindagem da ignorância, que como morfina, isola a dor. A dor que vem do desejo de não sentirmos dor (R. Russo), certamente. A dor de saber que é menos do que aparenta ser, porquanto se faz parecer apenas com o que vêem em você. Provavelmente você é mais. Provavelmente você é menos.

Com certeza nada disso tem valor, porque não tem história, não tem mérito, legitimidade. O que nos leva ao não reconhecimento, a falta de liderança, a força e a mesquinhês para contornar as possibilidades, as opções, o comando. Sinto muito, mas é impossível não te olhar de cima, sabendo que você me olha de baixo. Rasteja por opção, talvez só por caráter. É duro, mas é real. Depois de tudo tenho que ficar com a desagradável sensação de que você perdeu. E pior, não sinto nem piedade.

Para você que me vê como realmente sou, me respeita pelo que faço e me julga legitimamente pelos meus humanos atos, terá sempre um sentimento de ser bem-vindo. Mas, hoje, não posso deixar de admitir que, em caso contrário, nem ao menos eu sei perdoar. Não tenho essa grandeza. Não posso ser mais do que sou. Humano, apenas. Incapaz, eventualmente. Mas, explicitamente decepcionado. Dilacerado em um ato de boa intenção. Mas com certeza não vou deixar de olhar para cima, para frente, para o após. A vida continua. Estou vivo! provavelmente você não! Posted by Picasa

Para me ver

Esta é para você que me vê, me enxerga e me compreende. Somos o que somos. Podemos administrar isso. Podemos nos esforçar. Acho que as nossas incógnitas são reflexos das nossas certezas. Combinar o que se sabe com o potencial do que queremos é uma dádiva. Entra no plano metafísico. Nada mais somos do que essas combinações. Nada mais enxergamos do que queremos ver ou aceitamos.

Então para você que me vê, veja o que posso ser. Projete suas expectativas. Compreenda as limitações. Não permita não preconceber. Deixa fluir a sua imaginação. Pense no bom, no bem e no belo. Pense nas coisas positivas. Transforme o seu momento na eternidade. Aceite que não somos nada mais do que fomos em contraposição do que iremos ser. É um encontro do passado com o futuro. Somos o que somos nessa eternidade projetada que denominamos presente, embora físicamente ele não exista, porquanto é a contradição do passado menos remoto como o futuro iminente.

Neste contexto, reflita. Cada palavra vai vibrar por essa eternidade projetada. Vai trazer recordações desse passado e influir no futuro. Cada palavra tem o dom de ser eterna, assim como os seus efeitos. E muitas vezes nem percebemos como é rápido ou instantâneo dizer uma palavra. Antes ela seria o futuro. Depois de milésimos de segundo passa a palavra a ser o passado. O antes e o depois são inesquecíveis, têm efeito eterno.

Para administrar tudo isso nos confortamos com o arrependimento. Quanta energia desperdiçamos nesse processo. Mas é assim mesmo. Somos o que somos, lembra? Então para você que me vê, eu projeto em você todas as minhas expectativas de que você não sofra com essas palavras, ditas nos milionésimos de segundos que separam o futuro do passado. Como mar e o rochedo, o presente é tão sublime como a espuma. Inexistente, mas visível por uma projeção.

Me veja. Tenha sempre em mente que você pode sempre fazer mais por todos, inclusive você mesmo. Nós só vemos o que queremos ver. Eu vejo você, então você me vê. Me vê como você quer que eu seja. Assim, para que não tenha mais dúvidas, sou o que sou e vou continuar mudando a cada milionésimo de segundo que nos separa da eternidade!!! Com ou sem arrependimentos!!! Posted by Picasa

14.10.06

Olá!!

14 de outubro de 2006. Estamos inaugurando essa nova maneira de se comunicar. Mais do que isso, acredito. Uma nova maneira de se expressar. Expressar idéias, conteúdos, ressaltar polêmicas e neutralizar o preconceito. Idéias pré-concebidas sim. Porém idéias fixas, imutáveis, não.

O espaço é de todos os amigos ou dos futuros amigos, ou ainda dos não tão amigos, que queiram, em uma dinâmica de crescimento, conhecimento e informação, se manifestar livremente sobre todos os assuntos que aqui iremos tratar.

Bem-vindos.

Obrigado!!

Fernando Calmon